Expectativas na formação de preços

Expectativas na formação de preços

Fernando Barão

Com a chegada do segundo semestre, as escolas de Ensino Básico começam a se preocupar com uma das decisões estratégicas que terão de tomar muito em breve: a definição das anuidades que irão vigorar no ano seguinte.

Este setor tem muitas peculiaridades, mas uma das mais importantes, sem dúvida, é a metodologia específica que a legislação impõe a respeito da formação de preços.

Esta decisão pode ser tomada somente uma vez por ano, e suas consequências devem ser suportadas pela escola durante todo o ano seguinte.

Em um setor de margens apertadas e custos fixos elevados, pequenas flutuações nos indicadores de receita – como preço e número de alunos – são extremamente sensíveis para o resultado financeiro do negócio. Oscilações de 1 ou 2 pontos percentuais na receita costumam representar impactos significativos no orçamento de escolas de Ensino Básico.

Alia-se a isso o fato de se tratar de um mercado extremamente competitivo, em que o alunado é disputado de forma muito acirrada entre as instituições de ensino. Pode-se concluir que o processo de formação de preços é mesmo bastante delicado.

A decisão, portanto, deve ser tomada somente após muitos estudos de custo, de um lado, e de mercado, de outro.

É um fato conhecido que os aumentos médios das escolas particulares nos últimos anos têm, repetidamente, superado os índices de inflação divulgados pelos institutos que a mensuram.

À primeira vista, tal fato poderia ser entendido como uma estratégia que o setor tem usado para elevar seguidamente suas margens de lucros. Estudos feitos pela Corus Consultores, contudo, refutam esta impressão. As escolas têm procurado fazer frente, na realidade, ao aumento de custos a que vêm sido submetidas, em especial por conta das demandas de tecnologia educacional apresentadas pela sociedade.

Vale destacar, aqui, que, ao contrário de muitos outros setores, na educação – assim como na saúde – a tecnologia não é introduzida no processo com a perspectiva de redução de custos. Muito pelo contrário. Vale notar que não se está tratando do uso de sistemas gerenciais, e sim da implantação da tecnologia no próprio sistema de ensino-aprendizagem. Desde o princípio da utilização da tecnologia educacional, ela tem feito crescer o custo da maior parte das instituições de ensino. Basta ver que os avanços propostos, em nenhum momento, ocasionaram redução da utilização de recursos humanos – pelo contrário, fez com que as escolas tivessem de aprimorar seu quadro de funcionários para poder fazer frente aos novos desafios. A tecnologia não é simplesmente inserida no processo, como foi o caso do setor bancário. Nas escolas, ela traz o desafio de transformar o modelo pedagógico, o que é bastante oneroso, em especial no que se refere aos investimentos em recursos humanos.

E não existe, no horizonte, a expectativa de este quadro vá se reverter. O custo das escolas deve continuar aumentando mais do que a inflação. O efeito sobre os preços deverá ser decorrência direta disso.

Na formação de preços para 2015, especificamente, dois fatores parecem agravar a situação. Em primeiro lugar, a inflação está alta e assim deve permanecer por um bom tempo. Em segundo lugar, as Convenções Coletivas de professores e funcionários têm concedido aumentos reais (acima da inflação); por exemplo, no estado de São Paulo o reajuste real será de 2% em março do ano que vem – a Convenção do estado já foi assinada. Além disso, a Participação nos Lucros e Resultados (PLR) a ser paga em 2015 passará de 24% para 30%.

Somando-se os efeitos do aumento de custos, da inflação e da Convenção Coletiva, as escolas devem, desde já, trabalhar com a hipótese de que o reajuste de preços para 2015 não será pequeno. Ainda é cedo para falar em números, mas as expectativas do momento presente não são, propriamente, otimistas para quem imaginava a possibilidade de um reajuste mais baixo para o próximo ano.

(Imagem: madelaide/iStock.com

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Atualizado: 05/08/2020